Comunicar-se é um dos maiores desafios do ser humano.
Bem, mas como assim? já não nos comunicamos mesmo antes de aprender a falar?
Sim, a linguagem corporal (gestos, expressões faciais, postura corporal) diz mais do que as palavras. Nos constituímos enquanto sujeitos nas relações e na comunicação. Nossos cuidadores foram capazes de ler as manifestações e expressões do nosso corpo e compreender nossas necessidades, pelo menos o suficiente para sobrevivermos.
Da mesma forma a criança vai aprendendo, primeiro a linguagem do olhar, do toque, das expressões faciais e, aos poucos desenvolvendo seu sistema cognitivo e capacidade de se comunicar pela fala. Tudo isso é comunicação e é por meio dela que sobrevivemos e construímos nossa personalidade.
Então, por que a comunicação é tão desafiante na vida adulta?
Marshall Rosenberg, psicólogo que estruturou a Comunicação Não-Violenta, lança luz sobre esse tema. Na maioria das culturas o modelo de educação acaba por nos desviar de nossa natureza compassiva, ou seja, perdemos nossa natural capacidade de olhar para nossas necessidades e sentimentos e aprendemos a focar na possibilidade de que algo dê errado.
Como disse antes, os pais ou cuidadores olham para a criança com olhar curioso para compreender o que ela precisa, ou seja, as necessidades e sentimentos que estão escondidos por trás do choro daquele bebê que ainda não sabe falar. O bebê nasce com a capacidade de compreender intuitivamente os sentimentos que estão refletidos no olhar e modo de cuidar da mãe. E nessas experiências já começa a registrar suas primeiras impressões sobre si mesmo e sobre o outro.
Nesse processo relacional os paradigmas que regem a cultura vão delineando a forma de educar. Somos treinados para olhar para nós mesmos e para o outro buscando avaliar: esta certo ou está errado. Se está errado é feio, vergonhoso e a pessoa que cometeu o erro passa a correr o risco de ser ruim. A solução encontrada e punir. Punir para causar dor, emocional ou física, para que o errante aprenda a não cometer mais erros e passe a ser uma pessoa boa.
Nesse processo, os sentimentos e necessidades nossas e dos outros passam para o segundo plano. Sentir ganha derivados pejorativos e aprendemos a ser “fortes”, porque sentir é sinônimo de fraqueza. Aprendemos a julgar de forma moralizante aquele que erra e a punir. Essa forma de pensar que causa dor nas pessoas e as impulsiona a causar dor nos outros é, segundo Marshall a verdadeira causa da violência invisível e visível.
A comunicação positiva baseia-se em um forma de pensar que ativa nossa curiosidade amorosa para compreender a própria humanidade e a humanidade do outro, ou seja, os sentimentos e necessidades.
Ao invés de julgar como certo ou errado, o olhar direciona-se para o que realmente motiva as ações do ser humano, que são os sentimentos e necessidades. A CNV denomina esse processo de empatia. Praticar autoempatia e empatia são dois elementos fundantes da comunicação positiva.
A aprendizagem da comunicação positiva nos permite acessar nosso poder real de agir conectados com as próprias necessidade, mas respeitando as necessidades do outro.
Ela também permite conexão fortes e amorosas para que o diálogo favoreça a colaboração e soluções ganha-ganha.
Psic. Maria Aparecida de Oliveira