Por Maria parecida de Oliveira – Psicóloga Clínica e Mestre-Aprendiz em CNV

Garotas Banco Rir – Imagem de Pexels por Pixabay

A qualidade de vida e longevidade estão diretamente ligados à qualidade dos nossos relacionamentos. Essa é uma opinião unanime entre os cientistas que estudam esses temas.
Saber se relacionar implica não só saber iniciar e manter conversação, mas em ter habilidades para escutar e expressar de forma empática e assertiva e isso tudo só é possível quando aprendemos a cuidar da conexão.

Cuidar da conexão significa ter consciência de que não são só as palavras que determinam a qualidade do diálogo, mas, a nossa intenção, o que estamos buscando conseguir, os sentimentos e a linguagem corporal que usamos são determinantes na forma como o outro vai receber nossa mensagem: com escuta ou reatividade.

Então, podemos considerar que a comunicação é apenas a ponta do iceberg dos relacionamentos e a “Comunicação Não-Violenta – CNV”, estruturado pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, lança clareza sobre isso. Ela nos diz que precisamos desenvolver uma mentalidade e uma programação mental meditativa que nos permita estar sempre consciente do que está acontecendo dentro de nós, de modo que possamos estar prontos para atuar de forma responsável em relação às nossas necessidades e às necessidades dos outros.

Somos seres interdependentes e para que fiquemos bem e em paz é importante que o outro também esteja bem e em paz, do contrário, continuamos a nos iludir e a perpetuar um modo de relacionar responsável pela violência no mundo. Se desejamos realmente construir um modo de vida no qual exista paz, colaboração e qualidade de vida para todos precisamos desenvolver esse modo de consciência sobre nossa humanidade, que são nossos sentimentos e nossas necessidades. O contraponto da paz não é a guerra, mas a violência.

A CNV nos apresenta 4 distinções básicas, chamadas por muitos de 4 passos. Eles são um guia para a prática da autoconexão e busca da clareza necessária para escolhermos com consciência ficar em silêncio ou nos expressar de forma empática e, dessa forma, cuidar da conexão, do diálogo e de encontrar soluções colaborativas. São eles:

1) aprender a descrever o que ouvimos ou vemos exatamente como observamos, livre de julgamentos, inferências, avaliações;
2) dizer como nos sentimos diante do fato descrito;
3) Contar para o outro sobre o que desejamos, sobre o que é importante para nós e então,
4) fazer um pedido de forma clara e objetiva do que queremos que o outro nos dê para enriquecer a nossa vida. Tudo isso com base nos passos anteriores.

Esses 4 elementos podem nos ajudar a expressar desagrados, dar feedback e evitar ou resolver conflitos de forma empática e eficiente, respeitando os nossos sentimentos e necessidades e os sentimentos e necessidades do outro.

Vivemos rodeados o tempo todo de pessoas e precisamos interagir com elas. Somos seres sociais e nos constituímos enquanto sujeitos na interação com o outro. Supomos que sabemos interagir instintivamente, mas na verdade não sabemos muito bem como lidar uns com os outros e isso pode nos trazer prazer e leveza ou dissabores e sofrimentos.

Nas empresas, muitas vezes, é um desastre, pois não sabemos interagir com o outro que tem valores e crenças diferentes das nossas e muito menos como lidar com alguém que é hierarquicamente superior ou inferior a nós. Nas famílias também não é raro escolher o afastamento porque não toleramos quem mais amamos. Nas relações sociais somos extremamente seletivos porque diante de qualquer desagrado aprendemos a rotular o outro como pessoa difícil, esquisita, estressada, mandona, autoritária e nos afastamos antes que tenhamos entendido o que é importante para nós e para o outro ou o porquê de estarmos experimentando determinado sentimento em cada situação.

Aprendemos a culpar o outro ou a nos culpar e isso não resolve nossos problemas, ao contrário, criamos inimigos o tempo todo. É muito frequente nos depararmos com situações nas quais se tem que engolir sapo e ficar remoendo o “não dito” ou soltarmos a “verdade” na cara do outro, cometendo os famosos sincericídios que causam dor em nós mesos e nos outros.

A CNV tem ajudado a salvar casamentos, curar relacionamento entre pais e filhos, a engajar e promover harmonia e efetividade nas relações entre colaborados e deles com suas lideranças, bem como a construir um novo paradigma capaz de transformar as estruturas sociais.

A nossa cultura nos ensina a relacionar com nosso corpo forçando-o ao extremo e só lembramos de escutá-lo quando ele grita de dor. Então, o primeiro passo é aprender a se relacionar consigo mesmo, escutar o próprio corpo em tudo que ele experimenta e tenta nos comunicar. Depois de tomar consciência da violência que cometemos diariamente com a agente mesmo fica mais fácil tomar consciência sobre a dor que causamos no outro e aprender a usar a lente da empatia que nos permitir humanizar o outro e nos expressar a partir de outro lugar, um lugar onde podemos enxergar que somos iguais e onde podemos experimentar a unicidade, que são nossos sentimentos e necessidades.

A CNV é um convite ao nosso coração e por isso fácil de compreender, mas desafiante diante da necessidade de reaprender o que esquecemos com o treinamento que recebemos de nossa cultura. Reconexão com nossa humanidade que se encontra na consciência sobre nossos sentimentos e necessidades e conexão com o outro e com o prazer da co criação e da doação natural.