A psicologia é uma profissão gratificante e tem dado cada vez mais contribuições para o bem-estar das pessoas e o avanço da sociedade. Entretanto, ainda tem muito a conquistar no que se refere ao reconhecimento de seu valor e possibilidades de intervenção.

Focando na psicologia clínica, podemos enumerar vários fatores que levam as pessoas a evitarem ou adiarem a buscar pela ajuda de um profissional psicólogo.  Tais fatores exigem do psicólogo consciência para se ter tolerância, capacidade empática, resistência à frustração, e, principalmente, disposição para assumir os desafios que se apresentam.

Nossa cultura está assentada em paradigmas derivados do pensamento dualista, positivista e cartesiano, que levam as pessoas a buscar respostas certas e de forma imediata.  As respostas também são estimuladas por múltiplos estímulos externos (estéticos), os quais são impostos pelos estilos de vida moderno.

Outro fator de influência, e que decorre dos paradigmas citados, é a crença no modelo médico que diagnostica e prescreve medicamentos que extinguem ou suspendem de forma imediata e, às vezes, fácil a maioria dos sintomas desagradáveis. Isso estimula as pessoas a buscar esse mesmo modelo na psicoterapia. Entretanto, a psicoterapia exige tolerância, curiosidade e compromisso com o autoconhecimento, compreensão e promoção de mudanças de crenças e paradigmas que definem o estilo de vida responsável pelos sintomas.

Podemos citar também um outro fator que interfere na adesão à psicoterapia, que é a crença cultural de que somente os doentes mentais precisam de psicoterapia. Tal crença sustenta pensamentos errôneos, tais como: “se alguém souber que estou fazendo psicoterapia vai achar que sou louco!”,  “Só gente maluca precisa de psicoterapia! ”, “Sou forte e consigo sozinho, não preciso de ajuda! ”, “Tenho vergonha, não consigo falar sobre mim com ninguém! ”.  Pensando assim, provavelmente, sentirá vergonha, constrangimento e medo, sentimentos que podem levar ao adiamento e/ou negação da necessidade de ajuda psicológica. Tal atitude por certo contribuirá para a perpetuação e agravamento do sofrimento e  adoecimento mental.

Além disso, os próprios mecanismos psíquicos de defesa nos levam a construir estratégias para negar e/ou tentar nos livrar das nossas próprias limitações e sofrimentos. A pessoa que sofre de ansiedade social ou timidez, por exemplo, pode vestir uma máscara de “sistemática” e “orgulhosa” e, isolando-se, livra-se do sofrimento gerado pelo desconforto da ansiedade excessiva gerado pelo enfrentamento.

Entretanto, o resultado acaba sendo um déficit de habilidades sociais que compromete e empobrece a vida social, familiar, acadêmica e profissional, pois limita o potencial de desenvolvimento da pessoa.

Muitas vezes, o que evitamos imediatamente por medo ou vergonha é exatamente o que acabamos providenciando para daqui a pouco. Por exemplo, quando se evita a procura de ajuda profissional para resolver uma dificuldade quanto à escolha profissional, pode-se estar providenciando vários problemas: criar aversão a estudar, prolongar investimento num curso ao qual não se vê futuro profissional, aumento da ansiedade por adiar o enfrentamento da verdade e ter de contar para os pais que está reprovando etc.

Ao dizer sempre sim quando se quer dizer não, por medo de magoar a outra pessoa, podemos escolher procurar ajuda profissional para aprender a enfrentar essa dificuldade ou criar um grande problema de acúmulo de tarefas, ansiedade e baixa autoestima, o que pode nos levar inclusive à depressão.

Em vez de varrer para debaixo do tapete as dificuldades de relacionamentos e de educação dos filhos, os pais podem buscar a orientação de um profissional e prevenir vários problemas, como separação, violência doméstica, uso de drogas etc.

Em muitos casos, quando o indivíduo adia por muitos anos a ajuda de um psicólogo, ele pode acabar necessitando de tratamento psiquiátrico com uso de medicamentos e, por certo, nesta hora o próprio médico indicará a necessidade de iniciar psicoterapia como medida para busca de solução dos problemas e equilíbrio para a vida.

Aos poucos a psicologia vem desconstruindo tais crenças e construindo a consciência coletiva de que o psicólogo está preparado e pode ajudar a prevenir e diminuir o adoecimento mental e físico das pessoas.

Maria Aparecida de Oliveira. Psicóloga Clínica, Mestre em Desenvolvimento Humano, Facilitadora de Comunicação Não-Violenta e Fundadora do Núcleo CNV Goiânia.